Saúde

Transmissões de cirurgias robóticas são destaque de congresso em Goiânia

Evento de Coloproctologia segue até sábado (7)

Plataforma robótica utilizada no Hospital Albert Einstein em Goiânia (Foto: Letícia Coqueiro/A Redação)

Transmissões ao vivo de cirurgias complexas com intervenção mínima utilizando um robô controlado remotamente dentro da sala de cirurgia são uma das principais novidades apresentadas pelo 72º Congresso Brasileiro de Coloproctologia, evento promovido pela Sociedade Brasileira de Coloproctologia (SBCP) que começou em Goiânia nesta terça-feira (3/9). Realizado no Centro de Cultura e Convenções de Goiânia e também com atividades em outros locais, o congresso se estende até sábado (7/9) com a presença de especialistas de todo o Brasil e convidados internacionais para debater as mais recentes inovações no tratamento de doenças coloproctológicas.

A programação do evento é ampla e diversificada, incluindo cursos, palestras e transmissões ao vivo de procedimentos cirúrgicos. Por meio de parcerias, ocorrem durante o evento aulas para especialistas durante cirurgias realizadas no Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás (HC-UFG) com pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) e a transmissão ao vivo de cirurgias feitas com robô no Hospital Israelita Albert Einstein, feitas em pacientes também do SUS, atendidos pelo Hospital Municipal de Aparecida de Goiânia (HMAP), que é administrado pela grupo Albert Einstein.

Uma dessas cirurgias ocorreu na manhã desta terça, no centro cirúrgico do Einstein, com transmissão ao vivo para o auditório da Associação Médica de Goiás, ambos localizados no Complexo Órion, no Setor Marista, na capital. Os cirurgiões Dr. Rômulo Almeida, da Universidade de Brasília (UnB) e presidente da comissão científica da SBCP e Dr. Hélio Moreira Júnior, presidente da SBCP e professor da Universidade Federal de Goiás (UFG), salientam a importância de ter esta tecnologia inovadora em Goiás e em apresentá-la cada vez mais aos médicos goianos.

“A cirurgia robótica é algo que existe na medicina já há alguns anos. Infelizmente aqui no Brasil demorou um pouco para ter abrangência nacional. Temos aproximadamente 140 robôs de diversas marcas distribuídas pelo país”, conta Almeida. Em Goiânia, há apenas um robô, que está no centro cirúrgico do Hospital Israelita Albert Einstein e que é utilizado em todo tipo de cirurgia.

Hélio Moreira salienta que o robô não é autônomo: “você tem os braços robóticos que estão conectados nas pinças, que vão funcionar como apoio para a câmera e pinças cirúrgicas, que são introduzidas na cavidade abdominal por pequenas incisões. E existe o console que fica distante da mesa cirúrgica, onde o cirurgião tem controle absoluto de todo o instrumental e de todos os movimentos durante a cirurgia. Ele fica sentado confortavelmente neste console com dedeiras nas mãos e um visor ótico com visão 3D”, explica. 

Portanto, o robô obedece e replica os movimentos feitos pelo médico com mais precisão e refinamento do que as técnicas menos invasivas padrão, como a laparoscopia, que introduz a câmera e os instrumentos por pequenos cortes, mas que são controladas diretamente pelo cirurgião de pé ao lado da mesa operatória, e que além de mais fisicamente desgastante, oferece movimentos mais limitados.

Segundo Almeida, existem outras vantagens, como o treinamento: “o número de cirurgias que um treinando tem que fazer para atingir a proficiência em determinadas áreas é um décimo do que ele teria que fazer operando por laparoscopia, por exemplo”. De forma resumida, a cirurgia robótica causa menos trauma, o que significa menos dor pós-operatória, recuperação mais rápida e alta mais precoce.

Hélio adiciona que, por ter maior alcance e maior amplitude de movimento, somado ao uso do console, o desgaste do cirurgião é muito menor, o que faz grande diferença em procedimentos longos. “O cirurgião cansado, obviamente terá uma produção menor, vai oferecer maior risco para o paciente, não só pelo cansaço em si, físico, mas pela fadiga mental. O julgamento dele em um determinado momento da cirurgia pode ser diferente porque ele está cansado. Se estivesse descansado, talvez optasse por uma abordagem diferente do que ele estava fazendo naquele momento”, afirma.

É uma diferença grande, e por isso os doutores consideram importante inserir as transmissões ao vivo na programação, para encorajar os médicos participantes a se capacitarem e a buscar trazer mais plataformas robóticas para Goiás e para o Brasil: “Queremos gerar o desejo de voltar para a sua cidade e procurar a direção de seu hospital, os órgãos públicos do seu Estado e dizer ‘olha, a gente precisa se atualizar, a gente precisa de um robô aqui’. É gerar engajamento”, afirma Hélio.

Durante a transmissão, os médicos no auditório podem fazer perguntas e colocações que são repassadas por um mediador para a equipe de cirurgiões, que podem sanar dúvidas e até mesmo ouvir sugestões do colegiado de médicos. Além de ser uma primeira oportunidade, para muitos, de conhecer a tecnologia: a plataforma robótica ainda é tão rara por ser muito cara, custando cerca de US$ 3,5 milhões (cerca de R$ 19,7 milhões), com uma manutenção anual de US$ 200 mil (cerca de R$ 1,12 milhão).

Isto gera um custo adicional que ainda não é coberto por nenhum plano de saúde do Brasil. Para os médicos, isto é outra importância do Congresso: quanto mais essa tecnologia se tornar difundida e mais conhecida, mais cedo ela se tornará mais acessível para mais camadas da população, seja por meio de planos, seja pelo SUS. “É algo com o qual todo mundo ganha. Ganha o paciente, ganha os congressistas, ganha a instituição que o está oferecendo e gera um atendimento de melhor qualidade”, assegura Hélio.

Além da transmissão desta terça, ocorrerá uma outra na manhã de quarta-feira (4/9). Ela será ainda mais especial, pois terá como cirurgião Eduardo Parra, uma das maiores referências no mundo em cirurgia robótica e que veio direto da Flórida, nos EUA, para operar um paciente do HMAP no centro cirúrgico do Einstein.

Deixe uma resposta