Brasil

Idosos no mercado crescem 69% e já somam 8,6 milhões de trabalhadores

Participação dos 60+ na População em Idade Ativa atinge 20%

A força de trabalho no Brasil está passando por uma mudança profunda e irreversível. Entre o final de 2012 e 2024, o número de pessoas com 60 anos ou mais inseridas no mercado de trabalho cresceu 68,9%, saltando de 5,1 milhões para 8,6 milhões de ocupados, segundo levantamento com base na PNAD Contínua. Esse crescimento supera, em termos proporcionais, o de qualquer outro grupo etário no país, e escancara os efeitos de uma transição demográfica acelerada.

Hoje, cerca de 25,2% da população com 60 anos ou mais faz parte da força de trabalho. Em 2012, esse percentual era de 22,9%. O grupo, que já representa 20% da População em Idade Ativa (PIA), ocupa agora a segunda posição em participação, atrás apenas dos jovens entre 18 e 29 anos, com 22%. Estima-se que 3,7 milhões de idosos ingressaram no mercado de trabalho nos últimos 12 anos, sendo que 95,6% já estavam ocupados, o que mostra um movimento direcionado e consciente para a permanência ativa.

Pressão econômica e longevidade empurram os idosos

Entre os fatores que sustentam essa tendência, dois se destacam: o envelhecimento populacional, com aumento da expectativa de vida (de 74,9 anos em 2013 para 76,4 anos em 2023), e a crescente necessidade de complementar a renda. A aposentadoria, em muitos casos, não cobre o custo de vida nas grandes cidades, onde itens essenciais como saúde, moradia e alimentação continuam pressionando o orçamento familiar.

Segundo dados compilados, a cesta de consumo da população 60+ inclui, com maior peso, planos de saúde, medicamentos e hortifrutigranjeiros. A inflação percebida por esse grupo tem sido sistematicamente superior à média nacional desde a pandemia, o que agrava a vulnerabilidade econômica e impulsiona a permanência no mercado de trabalho mesmo após a aposentadoria.

Escolaridade e informalidade 

Ainda assim, o caminho da “geração prateada” no mundo do trabalho é repleto de obstáculos. Mais da metade dos trabalhadores com 60 anos ou mais tem, no máximo, o ensino fundamental completo, o que limita o acesso a cargos formais e melhor remunerados. Em 2024, 53,8% dos idosos estavam em ocupações informais, contra uma média nacional de 38,6%. A informalidade atinge impressionantes 68,5% entre aqueles com baixa escolaridade.

Esse cenário se reflete diretamente na renda. Trabalhadores idosos informais recebem, em média, R$ 2.210, menos da metade do que ganham os empregados formais da mesma faixa etária (R$ 5.476). A baixa qualificação e o preconceito etário se combinam para formar um mercado de trabalho que, embora mais aberto do que há uma década, ainda se mostra excludente.

Desigualdades regionais e resistência nas empresas

A distribuição regional também revela contrastes. Em estados como Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e São Paulo, a participação dos 60+ na força de trabalho supera 21%. Já nas regiões Norte e Nordeste, como Roraima, Acre e Amazonas, essa taxa não atinge 13%, refletindo desigualdades econômicas e estruturais.

Apesar das barreiras, o aumento da participação da geração prateada tem efeitos positivos para a economia. Ao contribuir com sua experiência, disponibilidade e, em muitos casos, uma visão mais madura e resiliente, os trabalhadores mais velhos ampliam a diversidade nos ambientes corporativos. Em contrapartida, enfrentam resistência ainda significativa por parte dos empregadores.

Estudos apontam que mais de 70% dos gestores preferem contratar pessoas abaixo dos 40 anos, e 86% das organizações não oferecem planos de carreira para trabalhadores mais velhos. Essa “juniorização” das vagas, muitas vezes motivada pela busca de menores custos com pessoal, representa uma estratégia de curto prazo que compromete a transmissão de conhecimento e reduz a produtividade organizacional.

Preparar-se para o futuro é obrigação, não escolha

Para além dos números, o avanço da geração prateada no mercado de trabalho impõe desafios estruturais. É preciso fomentar programas de requalificação, criar ambientes de trabalho acessíveis e combater o etarismo que ainda persiste nas práticas de recrutamento e gestão.

Especialistas reforçam que o envelhecimento da população é um dado irreversível. Em 2060, os idosos devem representar 25,5% da população brasileira. A permanência desse grupo na vida produtiva, portanto, não é uma anomalia: é uma realidade que exige preparo, planejamento e vontade política. O futuro do trabalho no Brasil passa, necessariamente, pelo reconhecimento da importância dos mais velhos na construção de uma economia mais inclusiva, produtiva e sustentável.

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