Polícia Federal

Bolsonaro recebeu R$ 44 milhões desde 2023, aponta relatório da PF

A investigação aponta acusações de lavagem de dinheiro e de outros ilícitos penais envolvendo o ex-presidente e seu filho Eduardo

A Polícia Federal acordou que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) recebeu cerca de R$ 44,3 milhões em suas contas bancárias entre março de 2023 e junho de 2025. Os dados fazem parte de uma análise baseada em informações do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), anexada ao inquérito que investiga suspeitas de obstrução do julgamento da trama golpista. O caso levou ao indiciamento de Bolsonaro e de seu filho Eduardo Bolsonaro (PL-SP).

Segundo o relatório, quase metade do valor recebido (R$ 20,7 milhões) veio por meio de transferências via Pix. A maior concentração ocorreu entre março de 2023 e fevereiro de 2024, quando R$ 19,3 milhões entraram nas contas do ex-presidente em mais de 1,2 milhão de lançamentos.

Jair Bolsonaro no último sábado, 16, ao deixar a prisão domiciliar para fazer exames em hospital em Brasília. Pedro Ladeira/Folhapress

Esse período coincide com a campanha feita por aliados de Bolsonaro para levantar recursos destinados ao pagamento de multas e advogados, embora o relatório da PF não faça menção direta a essa mobilização.

Além das doações, o partido do ex-presidente, o PL, aparece como responsável por R$ 1,1 milhão transferido a Bolsonaro ao longo dos quase dois anos.

Suspeitas de lavagem de dinheiro e blindagem patrimonial

A investigação aponta para lavagem de dinheiro e outros ilícitos penais envolvendo Bolsonaro e Eduardo. Entre março de 2023 e fevereiro de 2024, foram movimentados cerca de R$ 30,5 milhões em créditos e R$ 30,5 milhões em subsídios.

Só com honorários advocatícios, Bolsonaro gastou aproximadamente R$ 6,8 milhões. Também chamou a atenção o volume de operações de câmbio (R$ 105,9 mil), apesar de o ex-presidente estar com o passaporte retido e proibido de deixar o país.

O relatório cita ainda transferências para familiares:

  • R$ 2 milhões enviados a Eduardo Bolsonaro em maio de 2025, além de outros repasses enquanto o deputado já estava nos Estados Unidos;
  • R$ 2 milhões destinados a Michelle Bolsonaro em junho de 2025, um dia antes do depoimento do ex-presidente à PF. A corporação interpreta essa entrega como tentativa de evitar bloqueio judicial.

Segundo a representação protocolada no STF pelo líder do PT, Lindbergh Farias, e pelo advogado Reinaldo Santos de Almeida, parte dos valores também teria sido desconsiderada a Carlos Bolsonaro, configurando uma estratégia de blindagem patrimonial da família.

Representação no STF

O documento enviado ao ministro Alexandre de Moraes pede abertura de investigação criminal contra Jair, Michelle, Eduardo e Carlos Bolsonaro pelos crimes de lavagem de dinheiro, organização criminosa e fraude processual.

Os autores sustentam que as movimentações financeiras apresentam características típicas de operações circulares – quando as entradas e saídas de valores são praticamente equivalentes, recurso usado para mascarar a origem do dinheiro.

Além disso, apontam que os familiares atuariam como coautores no esquema, ao receber e movimentar recursos em nome de Bolsonaro, com o objetivo de patrimônio dissimular e evitar bloqueios judiciais.

Defesa e reação

A defesa de Jair Bolsonaro afirmou ter recebido com “surpresa” o indiciamento e declarou que “jamais ocorreu o descumprimento de qualquer medida cautelar anteriormente imposta” pelo Supremo Tribunal Federal. Os advogados disseram ainda que irão apresentar esclarecimentos dentro do prazo fixado pelo ministro Alexandre de Moraes.

Eduardo Bolsonaro, por sua vez, chamou de “crime absolutamente delirante” as acusações da PF e classificou como “lamentável e vergonhoso” o vazamento de conversas entre ele e o pai.

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