Personalização em massa movimenta R$ 91,5 bi e redefine indústria moveleira
Demanda por móveis sob medida impulsiona crescimento de 12,1%

A busca por identidade, conforto e funcionalidade nos ambientes tem impulsionado uma transformação silenciosa, mas profunda, no setor moveleiro e na arquitetura de interiores. A personalização em massa — que une tecnologia, design e eficiência produtiva — está redesenhando a lógica da produção de móveis e ampliando as fronteiras de atuação de arquitetos e projetistas em todo o país.
Segundo dados da Associação Brasileira das Indústrias do Mobiliário (Abimóvel), o setor moveleiro brasileiro faturou R$ 91,5 bilhões em 2024, alta de 12,1% em relação ao ano anterior. Parte significativa desse crescimento está ligada à personalização em escala, que permite atender projetos únicos com produtividade e controle de custos, sem recorrer à produção artesanal ou à padronização excessiva.
O que é personalização em massa?
Trata-se da união entre processos industriais e soluções sob medida. Em vez de fabricar móveis idênticos, as indústrias passaram a integrar sistemas digitais de corte, montagem e acabamento que possibilitam adaptações finas de medidas, materiais, ergonomia e design, conforme a demanda de cada projeto. Isso impacta diretamente áreas como saúde, educação, hotelaria, comércio e, mais recentemente, o setor residencial.
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Esse modelo permite atender, por exemplo, uma rede de escolas com móveis que respeitem a ergonomia infantil, ao mesmo tempo em que fornece mobiliário técnico para hospitais com requisitos de assepsia e segurança. No caso das residências, a personalização atende famílias com perfis variados, desde apartamentos compactos a moradias multigeracionais.
Nova demanda do consumidor: identidade e funcionalidade
A pandemia de Covid-19 acelerou essa mudança de comportamento. A percepção sobre o lar se transformou: a casa deixou de ser apenas espaço de descanso e passou a abrigar trabalho, lazer, autocuidado e convivência. Com isso, cresceu a demanda por móveis que expressem a personalidade dos moradores e se ajustem à rotina.
A cozinha, por exemplo, se tornou o novo centro da casa, exigindo projetos acolhedores, funcionais e integrados a outros ambientes. Já os quartos ganharam múltiplas funções — de descanso a home office — exigindo móveis modulares e ergonômicos. A sala passou a funcionar também como espaço de estudo, interação familiar e recepção de convidados, exigindo soluções versáteis.
Nesse contexto, a personalização em massa surge como resposta à exigência por ambientes que dialoguem com quem os utiliza. Para os profissionais da arquitetura e do design, o desafio é projetar espaços cada vez mais personalizados sem abrir mão da eficiência e da viabilidade econômica.
Produção inteligente: design aliado à indústria
Profissionais do setor explicam que o novo modelo exige a combinação de engenharia, sensibilidade estética e domínio técnico. Um dos desafios é manter a padronização dos processos sem perder a capacidade de adaptação. Para isso, empresas do setor investem em softwares de gestão integrada, maquinário CNC (comando numérico computadorizado), sistemas modulares e manufatura orientada por dados.
A digitalização permite produzir peças sob medida com precisão milimétrica, reduzindo desperdícios, aumentando a velocidade de entrega e garantindo controle de qualidade. A lógica é semelhante à aplicada em setores como o automotivo e o vestuário técnico. O diferencial é que agora essa tecnologia chegou ao setor moveleiro, tradicionalmente mais artesanal.
Na arquitetura, o uso de ferramentas como BIM (Modelagem da Informação da Construção) e realidade aumentada tem sido fundamental para a visualização prévia dos projetos. Isso garante que o cliente participe mais ativamente das decisões e que os erros sejam minimizados ainda na fase de planejamento.
Móveis planejados e ambientes personalizados: uma nova realidade
Com a valorização do espaço doméstico, aumentou também a procura por ambientes personalizados. Móveis planejados passaram a ser prioridade em projetos residenciais. Especialistas destacam que a análise da rotina dos moradores é o ponto de partida para a criação de soluções funcionais e agradáveis.
A chamada “regra do triângulo” — que orienta o posicionamento entre pia, fogão e geladeira — ainda guia muitos projetos de cozinha. No entanto, layouts lineares, cozinhas integradas e soluções gourmet têm ganhado espaço, adaptando-se a novos hábitos alimentares e sociais. O mesmo vale para banheiros, varandas e espaços de trabalho, que agora recebem atenção especial em projetos sob medida.
Outro fator de destaque é o cuidado com a iluminação. Ambientes com múltiplas funções exigem luzes versáteis e bem distribuídas. Perfis e fitas de LED, por exemplo, vêm sendo amplamente utilizados para evitar sombras e valorizar revestimentos, ao mesmo tempo em que criam atmosferas acolhedoras.
Desafios e perspectivas para o setor
Apesar dos avanços, ainda há obstáculos. A cadeia de suprimentos precisa ser flexível, com materiais padronizados e de qualidade. A capacitação técnica dos profissionais também é um desafio, pois o novo modelo exige domínio de ferramentas digitais e de processos industriais. Além disso, há o desafio de democratizar o acesso: como tornar móveis personalizados acessíveis para uma base de consumidores mais ampla?
Especialistas acreditam que o caminho está na integração entre arquitetura, design, tecnologia e indústria. Com foco em experiência do cliente, sustentabilidade e inovação, o setor deve continuar crescendo. As perspectivas indicam que a personalização escalável será uma das principais forças do mercado de móveis e arquitetura nos próximos anos, ampliando seu alcance em áreas como moradia social, acessibilidade e habitações urbanas compactas.
Em vez de escolher entre o feito sob medida e o produzido em série, o consumidor passa a ter acesso ao melhor dos dois mundos: móveis únicos, produzidos com qualidade e eficiência industrial. A personalização em massa, portanto, não é apenas uma tendência estética — é uma revolução produtiva em curso.