Inteligência Artificial

IA criada em Goiás inova e recebe prêmio por acelerar inspeção veicular para poucos minutos

Ferramenta da Cilia e CEIA/UFG, apoiada pela Fapeg, revoluciona setor automotivo com inteligência artificial e já é usada por quase todas as seguradoras do país

Uma ferramenta de inteligência artificial (IA) criada em Goiás e experimentada já há cinco anos, permite a execução em minutos de orçamentos para conserto de veículos danificados por meio de fotos tiradas com o celular. A tecnologia foi criada pela empresa goiana Cilia Tecnologia, em parceria com o Centro de Excelência em Inteligência Artificial (CEIA) da Universidade Federal de Goiás (UFG), com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg).

A tecnologia utiliza imagens sintéticas, ou seja, arquivos visuais criados artificialmente, sem necessidade de fotografias reais. Essas imagens são usadas para alimentar e treinar sistemas de IA capazes de identificar e orçar danos em veículos automotivos.

O professor e coordenador do projeto, Anderson Soares, explica que “ensinar a máquina a reconhecer avarias mesmo quando não há grandes bases de dados disponíveis” foi o grande desafio superado. “Criamos imagens do zero, com diferentes cenários de batidas e danos, para que a IA aprendesse a identificar problemas nas lanternas, portas, para-choques. É algo inédito no Brasil e pouco explorado no mundo”, observa.

A previsão é de que a inovação não só agilize o atendimento, que passou de dias para minutos, como também permita que o próprio segurado participe do processo de forma mais ativa, reduzindo etapas burocráticas e acelerando até o pagamento do sinistro. Segundo explicam os responsáveis pelo sistema, em alguns casos, as seguradoras já fazem a transferência do valor ao cliente em até duas horas após o envio das imagens.

Potencial para outros usos

Além disso, a tecnologia tem potencial de aplicação em diversos setores da economia, como logística, saúde, energia e agricultura, já que permite encaminhar soluções sem dados reais.

“A grande inovação foi provar que é possível resolver problemas de IA mesmo sem dados reais em larga escala. Os dados sintéticos abrem portas para diferentes indústrias, com soluções escaláveis e cientificamente relevantes”, destaca Anderson.

Uma primeira versão da ferramenta foi lançada em 2020 e evoluiu rapidamente. A versão atual, com imagens sintéticas, já está em uso em quase todas as seguradoras do país. Segundo a Cilia, apenas uma grande operadora ainda não aderiu à solução, o que evidencia a escala nacional e a aceitação de mercado da tecnologia criada em solo goiano.

Prêmio

O projeto também foi reconhecido nacionalmente em dezembro do ano passado com o último Prêmio Embrapii, em uma seleção que avaliou iniciativas de diferentes áreas do conhecimento. O reconhecimento veio por meio do projeto intitulado “Aprendizado de máquina utilizando imagens sintéticas de veículos automotores”.

Para o CEIA e para Goiás, o prêmio simboliza o avanço do estado no cenário da inovação tecnológica. A trajetória da Cilia com o CEIA teve início a partir de uma demanda prática da empresa. Foram três ciclos de contratos, envolvendo professores, pesquisadores e estudantes, muitos deles com histórico de formação apoiada pela Fapeg, que idealizou e fomentou o CEIA desde sua concepção.

“A Fapeg foi estratégica. Além do investimento financeiro, houve um planejamento institucional claro, com metas desafiadoras, como a de nos tornarmos uma unidade Embrapii. Isso nos forçou a estruturar melhor nossos processos e consolidar o centro como referência nacional”, afirma Anderson.

Expressão

Hoje, o CEIA atende 71 empresas, de startups a grandes marcas como Itaú, Cemig, Weg, Positivo e Vivo. A variedade de setores reflete a versatilidade das soluções de inteligência artificial desenvolvidas pelo centro, que também se beneficia do ambiente favorável à inovação criado pelo Governo de Goiás.

Um exemplo disso é a recente aprovação da Política Estadual de Fomento à Inovação em Inteligência Artificial, que posiciona Goiás como pioneiro na regulamentação e estímulo à IA no país. “Enquanto a lei federal ainda é pautada pelo risco, a política goiana olha para a oportunidade. É uma forma inteligente de ocupar uma janela tecnológica com foco no desenvolvimento econômico e social”, conclui o professor.

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