Presença feminina na política é ampliada e mulheres conquistam 34 prefeituras goianas
Maioria do eleitorado e minoria entre os eleitos: mulheres seguem enfrentando obstáculos para entrar na política e ter sucesso nas eleições.
Redação
O número de mulheres que ganharam as disputas para prefeituras ainda no primeiro turno das eleições deste ano superou o percentual alcançado em 2016. Embora o crescimento no número de gestoras públicas tenham se mantido, o resultado ainda está longe de atingir a equidade.
Em Goiás as mulheres foram vitoriosas na corrida pela prefeitura de 34 cidades. Em 2016 esse número era 32 e em 2012 foram apenas 25. Levando-se em conta que 52,3% do eleitorado goiano é feminino, a conclusão é de que ainda há um longo caminho a percorrer para que elas consigam ter sua representação garantida.
Apesar de ser um pequeno crescimento, as mulheres goianas que ganharam nas urnas apontam que há muito o que se comemorar. Em Porangatu, no norte goiano, após uma disputa acirrada, a vencedora foi Vanuza Valadares (Podemos). Será a primeira vez em 73 anos de emancipação que o Município terá como gestor uma mulher. “É um fato que tem muito que ser comemorado. Uma conquista minha e de todas mulheres”, diz a prefeita eleita.
Vanuza relata que sua eleição para Prefeitura de Porangatu não foi um processo rápido. Ela lembra que fez carreira na vida pública antes de entrar na campanha para o Executivo da cidade. Vanuza já foi primeira dama, período em que esteve à frente da Secretaria Municipal de Assistência Social, também já foi eleita deputada estadual e ocupou funções dentro do Governo do Estado. “Uma mulher quando se lança candidata, se não tiver vida pública ou trabalho prestado na sociedade por atividade pública haverá mais dificuldade”, avalia. “Essa nova mentalidade está surgindo em Porangatu. Acreditam que a mulher tem capacidade para desenvolver um bom trabalho e isso vai proporcionar que mais mulheres se sintam motivadas para disputar a eleição”, completa.
Vanuza celebra a conquista, mas avalia que as barreiras para as mulheres que decidem entrar na política são bem maiores do que para homens. “Vejo muita dificuldade. Uma é a questão econômica que sempre é mais difícil para mulher. A outra é a forma que é praticada a política. Sabemos que os bastidores não é algo fácil. Por vezes se enfrenta adversários que usam todas armas para atacar, e geralmente a mulher não gosta de estar num processo desses”, aponta.
Na cidade de Israelândia, no oeste goiano, a representatividade das mulheres na disputa pela Prefeitura este ano foi de 100%. Adelícia Moura (PSC) enfrentou Miriã Dantas (DEM), que buscava a reeleição. “Mesmo sendo duas mulheres o desafio foi grande, as barreiras existem. Quando pedia voto alguns diziam que seria trocar seis por meia dúzia, já que eram todas mulheres. Para montar a chapa também foi difícil, porque acreditavam que não teríamos firmeza para ir até o fim da campanha”, relata Adelícia, que foi eleita para gerir a cidade a partir de 2021.
Mesmo enfrentando o preconceito, Adelícia diz ter orgulho da conquista “Assumir esse cargo, sabendo que quem está deixando também é uma mulher é uma alegria. É saber que o espaço está sendo conquistado por nós”, sinaliza.
A prefeita eleita em Israelândia diz acreditar que as mulheres possuem características que favorecem a administração de uma cidade. “A sensibilidade ajuda muito na hora de tomar decisões. A gente tem um lado mais humano, temos mais aflorada a questão de família, de buscar sempre o melhor e agir com razão e emoção”, considera.
Crescimento tímido
Nas eleições deste ano em Goiás foram 6.816 candidatas mulheres e 14.426 concorrentes do sexo masculino. A porcentagem é de 32,09% das candidaturas femininas e 67,91% de homens. Os prefeitáveis homens são 612, o que representa 87,68% dos candidatos às prefeituras das 246 cidades goianas, e as mulheres que concorrem aos mesmos cargos 86 (12,32%).
Para a mestre em Ciência Política Denise Paiva Ferreira, pelo número de candidatas, o percentual de eleitas deveria ser maior. “Ainda que aumente o número de mulheres se candidatando ou cumprindo a cota estabelecida em lei, as mulheres têm mais dificuldades de se eleger. Isso é notável”, avalia.
Denise Paiva aponta que mesmo havendo ações como a cota de candidaturas femininas e distribuição do fundo partidário, ainda há muito que se avançar. “Somo sub representadas. Esse conjunto de incentivos são importantes, mas existe o que chamamos de telhado de vidro que é invisível. É uma série de barreiras que faz com que seja mais difícil para mulher ter acesso aos recursos e incentivo dos partidários”, diz. “Também há a questão cultural e da família. A mulher tem que contemplar a sua vida como profissional junto com a vida familiar. Isso cria uma dificuldade para exercer a carreira, e não é só para entrar na política, mas para ser eleita.”
Cenário nacional da política feminina
Na eleição do último dia 15 foram eleitas 646 prefeitas. O Brasil tem 5.570 municípios, as mulheres ainda são minoria no comando das prefeituras. Apenas 12% dos prefeitos eleitos no primeiro turno são mulheres, embora o percentual tenha crescido um pouco (0,6%) em relação às eleitas em 2016.
Ainda há possibilidade de seis capitais elegerem prefeitas: Macapá, que teve a eleição atrasada para dezembro por causa do apagão; e mais cinco cidades onde mulheres foram para o 2 ° turno: Porto Alegre, Aracaju, Recife, Rio Branco e Porto Velho.
De um modo geral, a participação feminina na política já caminha para além do cumprimento da cota obrigatória de 30% reservada pelos partidos. De acordo com a Justiça Eleitoral, no pleito deste ano as mulheres representam 33,6% do total de 557.389 candidaturas, superando o maior índice das três últimas eleições, que não passou de 32%.
O aumento da presença feminina na eleição não veio por acaso ou por vontade exclusiva das legendas. Foi necessário mudar a lei.
A Emenda Constitucional 97, sancionada em 2017, proibiu, a partir de 2020, a celebração de coligações nas eleições proporcionais para a Câmara dos Deputados, Assembleias Legislativas e Câmaras Municipais.
Assim, a partir desse ano, a cota de 30% de candidaturas femininas passou a ser cumprida pelos partidos individualmente e não mais pelas coligações.
Mulheres eleitas em Goiás
Cidade | Prefeita |
Alvorada do Norte | Iolanda Holiceni (DEM) |
Aurilândia | Cida Furtado (PL) |
Baliza | Fernanda Nolasco (DEM) |
Bela Vista de Goiás | Nárcia Kelly (PP) |
Buriti de Goiás | Dra Átila (DEM) |
Buritinópolis | Ana Paula (DEM) |
Caçu | Ana Cláudia Lemos (MDB) |
Caldazinha | Solange Gouveia (PSC) |
Campo Limpo de Goiás | Graciele da Arte Trigo (DEM) |
Caturaí | Divina Zago (Solidariedade) |
Cristianópolis | Juliana da Farmácia (DEM) |
Damianópolis | Andreia de Fabim (PDT) |
Doverlândia | Genilva de Assis (Republicanos) |
Edealina | Cristiana (DEM) |
Guaraíta | Adna Ferreira (PP) |
Israelândia | Adelícia Moura (PSC) |
Itaberaí | Rita de Cássia (PSB) |
Jandaia | Milena Pereira (MDB) |
Jussara | Idali Bontempo (PSL) |
Lagoa Santa | Núcia Kelly (Cidadania) |
Matrinchã | Ivânia (PSDB) |
Maurilândia | Edjane Alves (PL) |
Mimoso de Goiás | Ângela (DEM) |
Montividiu do Norte | Jacira Martins (PP) |
Mundo Novo | Marlene Lourenço (Republicanos) |
Pires do Rio | Cida Tomazini (Podemos) |
Porangatu | Vanuza Valadares (Podemos) |
Portelândia | Marly do Valdineis (Republicanos) |
Rio Quente | Ana Paula (Solidariedade) |
Santa Isabel | Cássia Dourado (PSDB) |
Santa Terezinha de Goiás | Karla do Sillas (MDB) |
São João d`Aliança | Débora Domingues (PL) |
São Miguel do Araguaia | Azaide Borges (PP) |
Simolândia | Dona Dete (DEM) |
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