Marconi Perillo é alvo de operação da PF contra desvio milionário na saúde durante seu mandato
Perillo (PSDB) foi um dos alvos de mandado de busca e apreensão na Operação Panaceia, desta quinta-feira
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Marconi Perillo (PSDB) foi alvo de operação deflagrada pela Polícia Federal e pela Controladoria Geral da União (CGU) na manhã desta quinta-feira (6) contra suspeitos de desviar recursos na área da saúde de Goiás entre 2012 e 2018.
O ex-deputado federal e ex-senador por Goiás, Marconi Perillo comandou o Estado em quatro mandatos (1999 a 2002, 2003 a 2006, 2011 a 2014, e de 2015 a 2018). É o atual presidente nacional do PSDB.
Perillo (PSDB) foi um dos alvos de mandado de busca e apreensão na Operação Panaceia, desta quinta-feira. Agentes cumpriram 10 mandados de busca e apreensão em Goiânia e um em Brasília.
Familiares também são investigados. A ex-primeira-dama de Goiás, Valéria Perillo, e as duas filhas do casal tiveram o sigilo bancário quebrado em meio a uma série de decisões da 11ª Vara Federal.
Com um mandado, policiais federais estiveram na casa da família Perillo, em um condomínio de luxo na capital goiana, mas não encontraram ninguém. O político estava em São Paulo.
A Justiça ainda ordenou o sequestro de mais de R$ 28 milhões dos suspeitos. Os desvios na Saúde de Goiás ocorreram por meio de uma Organização Social (OS), o Instituto Gerir, em contratos com o governo estadual da época, segundo investigação.
A organização social investigada recebeu mais de R$ 900 milhões em recursos do SUS por meio de contratos com o Estado de Goiás. Segundo a PF, essa OS subcontratou empresas ligadas a políticos e aos próprios administradores, desviando verba do SUS.
Nesse esquema, parte do dinheiro recebido pela empresa retornava aos próprios políticos ou à administração da organização, o que configura o crime de peculato.
Contratos com objetos genéricos
Os contratos de terceirização de serviços tinham objetos genéricos – alguns semelhantes –, sem definição de quantitativos e especificações das atividades. Isso tornou impossível a fiscalização da execução dos serviços, segundo a CGU.
“Sendo assim, desvios de recursos públicos destinados ao financiamento desses serviços causaram efeitos negativos na qualidade do atendimento de saúde da parcela vulnerável da população”, informou a CGU por meio de nota.
Os investigadores analisaram notas fiscais e documentos extraídos do sistema de prestação de contas do governo.
A PF observou que o total desviado no suposto esquema criminoso pode ser ainda maior que os R$ 28 milhões sequestrados dos investigados.
Também são apurados os crimes de corrupção ativa e passiva, organização criminosa e lavagem de capitais. Somadas, as penas para esses delitos podem ultrapassar 40 anos de prisão.
O nome da operação, Panaceia, faz referência à deusa grega da cura e, posteriormente, passou a ser empregado como sinônimo de simpatias “cura-tudo” ou “remédio para todos os males”.
Perillo fala em perseguição de Caiado
Marconi Perillo se manifestou sobre a operação por meio de nota, em que disse ser vítima de perseguição. Acusou o atual governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil) de usar estrutura do Estado contra ele.
“Mesmo esperando uma reação aos meus vídeos de denúncias por parte do grupo comandado por Caiado e que hoje domina Goiás e suas instituições, não imaginava que eles, mais uma vez, ousassem usar o poder do Estado para me perseguir, constranger e tentar calar”, diz trecho da nota.
“Já fui vítima de outras armações e ‘operações’ encomendadas, quando todos os meus sigilos e de minha família foram devassados, na mais profunda investigação contra um político em Goiás. Inclusive, essa armação foi duramente repreendida pelo STF”, prossegue o pronunciamento.
Esta não é a primeira vez que Perillo entra na mira da PF. Em 2018, foi preso na Operação Cash Delivery, que investigava o pagamento de propinas em campanhas eleitorais. O ex-governador passou só uma noite na cadeia. O Tribunal Regional Federal da 1ª Região determinou a soltura do ex-governador, no âmbito de habeas corpus.
“Eles sabem da minha inocência e idoneidade. Não encontraram e não encontrarão nada contra mim. Nunca fiz o que narram. Só se fabricarem. Criarem factoides. Mas agora extrapolaram todos os limites e com extrema crueldade”, dia ainda Perillo.
“Estão fazendo uma operação por supostos ‘fatos’ acontecidos há 13 anos. É estranho que só agora, quando faço denúncias contra o atual governo, é que resolvem realizar essa operação. Em política não existem coincidências. Não tem um único centavo em minhas contas e de minha família que não seja oriundo do meu trabalho e declarado no Imposto de Renda”, ressalta.
Já a atual administração do governo de Goiás, que tem o presidenciável Ronaldo Caiado à frente dela, ressaltou, também por nota, que a Operação Panaceia investiga desvios de recursos do SUS em hospitais do Estado “ocorridos entre os anos de 2012 e 2018, durante os mandatos do ex-governador Marconi Perillo”.
Também frisou que a OS alvo da operação nunca prestou serviços à atual gestão. “Além disso, foram implementados a partir de 2019 controles internos para garantir a transparência na aplicação dos recursos públicos em todas as áreas, com o objetivo de impedir desvios e assegurar o uso correto do dinheiro público”.