IA revoluciona processos e impulsiona inovação na indústria de Goiás
Redução de custos é um dos resultados
No Centro-Oeste brasileiro, com localização estratégica e privilegiada no coração do País, a indústria goiana não só acompanha o ritmo da transformação tecnológica global, mas se destaca com um expressivo crescimento de 7,7% no segundo trimestre de 2024, quase o dobro da média nacional de 3,9%. No apanhado de 12 meses, até julho deste ano, o setor industrial local registrou um avanço expressivo de 8,1%.
Esse desempenho reflete a rápida e eficaz adaptação às novas tecnologias, com destaque para o uso da inteligência artificial (IA), com grande poder de impactar o futuro da indústria. Mas o que é, de fato, a IA e como essa tecnologia está impactando de forma concreta a produção e a competitividade das organizações?
A IA, em termos simples, refere-se a sistemas capazes de exibir comportamento inteligente, simulando a inteligência humana, ao coletar e analisar informações, tomando decisões ou realizando ações de forma autônoma. Ela se manifesta em tecnologias avançadas como o reconhecimento de voz, análise de imagens, mineração de dados e machine learning (aprendizado de máquina), com aplicações práticas que vão desde o controle de qualidade nas linhas de montagem até a previsão de falhas em equipamentos.
O impacto dessa tecnologia não é perceptível apenas em Goiás, mas no mundo todo. Pesquisa da McKinsey sobre o tema revela que o interesse no uso da Inteligência Artificial (IA) tem aumentando consideravelmente. Em 2024, 72% das empresas do mundo, incluindo do setor industrial, já adotaram essa tecnologia em algum momento, um avanço significativo comparado aos 55% em 2023, conforme consta no levantamento.
No Brasil, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cerca de 20% das grandes indústrias já utilizam sistemas baseados em IA. Em Goiás, essa modernização se reflete no recente crescimento econômico, com empresas locais investindo cada vez mais em automação inteligente para ganhar competitividade.
É o caso da Indústria de Móveis Oliveira (Imol) e da Biotec Biológica Indústria Farmacêutica, ambas localizadas em Senador Canedo, na Grande Goiânia. As duas adotaram o uso da IA não apenas para se manterem competitivas, mas para redefinirem seus processos produtivos e administrativos.
A Imol, conhecida por sua produção de móveis voltados para hotéis e hospitais, decidiu pela aplicação de IA em seu chão de fábrica. Com quase 100 colaboradores e uma presença significativa de vendas nas regiões Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste, a empresa, liderada por Nicolas de Lima Paiva, de 39 anos, implementou a IA há cerca de um ano, em parceria com o Centro de Excelência em Inteligência Artificial (CEIA) da Universidade Federal de Goiás (UFG).
Linha de produção da Imol, em Senador Canedo (Foto: divulgação)
“Buscamos a IA para direcionar nossa linha de produção. O objetivo era otimizar o trabalho e reduzir o risco de estoques excessivos ou escassez de produtos. Tem dado muito certo”, explica Nicolas, que também preside o Sindicato das Indústrias de Móveis do Estado de Goiás (Sindmoveis-GO).
A empresa começou os testes em 2023, e os resultados já são visíveis. A IA permite prever a demanda de produtos e otimizar o planejamento do que é produzido, considerando fatores como tempo de produção, disponibilidade de máquinas e a prioridade dos pedidos. “A IA direciona essa produção. Hoje, eu sei exatamente quando tudo estará concluído e quando novas produções poderão ser iniciadas”, detalha o presidente da Imol, ressaltando que essa tecnologia proporciona maior previsibilidade e conforto para os gestores. “Se um colaborador precisar se ausentar, por exemplo, a IA já tem a capacidade de gerenciar o processo em sua ausência. Isso é um ganho significativo.”
A implementação da IA, no entanto, não foi uma tarefa simples. “Foi necessário ter um banco de dados organizado há pelo menos cinco anos para que a tecnologia pudesse atuar efetivamente”, diz Nicolas. O investimento inicial se mostrou promissor, com a promessa de que a IA poderia resolver uma série de problemas no processo produtivo. “A integração da tecnologia à produção exigiu um esforço coletivo, envolvendo toda a engenharia da empresa”, acrescenta.
Atuando em outro nicho de negócios, a Biotec Biológica Indústria Farmacêutica também trilha um caminho de inovação. Presente no mercado há 16 anos, a Biotec adotou a Inteligência Artificial há cerca de 24 meses, desenvolvendo um software em colaboração com pesquisadores da área. Inicialmente, a IA foi aplicada em setores como comercial e inteligência de mercado, mas seu uso se expandiu para outras áreas cruciais, como pesquisa e desenvolvimento, logística e controle de qualidade.
Sede da Biotec (Foto: divulgação)
“A IA tem sido fundamental para a coleta e análise de dados, permitindo prever demandas de mercado e otimizar nossos processos”, afirma Marcelo Perillo, sócio-administrador da Biotec e presidente do Sindicato das Indústrias Farmacêuticas do Estado de Goiás (Sindifargo). Ele destaca que a introdução da IA levou à qualificação dos colaboradores, preparando-os para trabalhar com as novas tecnologias. “Estamos prevendo novas contratações de especialistas em IA para manter a evolução desse sistema”, complementa.
Os impactos positivos da IA na indústria são, de fato, evidentes, conforme pontua Marcelo. “A adoção dessa tecnologia melhorou nossa eficiência, reduziu custos e aumentou a qualidade dos nossos produtos”, explica o empresário do ramo farmacêutico. A empresa já está, inclusive, planejando expandir o uso de IA para novas áreas, garantindo que se mantenha atualizada em um mercado cada vez mais competitivo.
Investir em inteligência artificial (IA) na indústria pode ser um ponto questionável por alguns, mas é algo visto por especialistas da área como um movimento estratégico. Os custos dependem de diversos fatores, mas a tecnologia tende a se pagar com o tempo, devido aos benefícios operacionais e financeiros. Empresas que adotam IA relatam aumentos de receita e reduções significativas nos investimentos operacionais.
O custo de implementação varia de acordo com a complexidade dos sistemas e o volume de dados necessários para treinamento. No entanto, os gastos iniciais geralmente incluem a compra de software, a contratação de especialistas e a adaptação dos sistemas produtivos presentes na organização. Apesar dessas aplicações financeiras, a IA traz retornos expressivos, como a redução de falhas, otimização de processos, manutenção preditiva e aumento do volume do que é produzido. Segundo dados da McKinsey, mais de 60% das empresas de todo o mundo que utilizam IA na indústria viram aumento na receita, e 44% observaram uma redução nos custos.
A revolução tecnológica não deixa margens para indecisões quando o assunto é manter ou ampliar a competitividade do negócio, e a Federação das Indústrias do Estado de Goiás (Fieg) protagoniza com maestria o caminho para a implementação da Inteligência Artificial (IA) no setor industrial goiano. Reconhecendo que o futuro da competitividade industrial depende da inovação, a Fieg, por meio de seus diversos braços parceiros — como o Instituto Euvaldo Lodi (IEL), o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) e o Serviço Social da Indústria (Sesi) —, atua com força total para garantir que o estado de Goiás esteja à frente quando fala-se em IA.
Luciano Lacerda, presidente do Conselho de Desenvolvimento Tecnológico e Inovação (CDTI) da Fieg, destaca o empenho da Federação em promover a evolução tecnológica no setor industrial, principalmente no que diz respeito à IA. “Há pouco mais de um ano, criamos uma força-tarefa dentro da Fieg para trabalhar com a Inteligência Artificial de forma efetiva, garantindo que Goiás não ficasse para trás”, afirma. Segundo Lacerda, todos os setores da Fieg se capacitaram e se prepararam para atender às demandas tecnológicas das indústrias. “A IA está sendo trabalhada desde o direcionamento na formação de alunos, como vemos nas salas de aula das unidades do Sesi, por exemplo, até a capacitação de empresários, oferecendo soluções básicas e avançadas”, completa.
Um dos exemplos mais notáveis quando o assunto é adoção da IA é o trabalho desenvolvido pelo IEL, que implementou a tecnologia para otimizar processos repetitivos e aumentar a eficiência na gestão. A Faculdade de Tecnologia Senai Goiânia (Fatesg), por sua vez, tem sido um centro de excelência na formação de profissionais especializados, lançando cursos de graduação e pós-graduação em Inteligência Artificial para suprir a crescente demanda do mercado. “A IA é um assunto que precisa ser explorado”, garante Lacerda ao mencionar que essa visão se traduz em ações concretas que visam, além da modernização da indústria goiana, a criação de um ambiente propício para que novas ideias e tecnologias possam florescer.
Com uma abordagem focada em capacitação, inovação e colaboração, a Fieg acompanha as tendências do mercado e, em muitos momentos, as lidera. De acordo com Weysller Matuzinhos de Moura, diretor da Faculdade Senai Fatesg, a Fieg está à frente de um movimento estratégico para levar a IA ao “chão de fábrica” das indústrias locais. “Aqui em Goiânia, por exemplo, o Senai tem investido muito na aplicação de Inteligência Artificial para a indústria, sob um programa guarda-chuva chamado Mundo IA FIEG”, afirma Matuzinhos, que é graduado em Direito e Tecnologia da Informação e tem se dedicado atualmente a estudos sobre a regulamentação da IA no Brasil. A regulamentação, inclusive, é pauta do projeto de lei (PL) 2.338/2023, que tramita no Congresso Nacional.
A Faculdade Senai Fatesg, localizada no Setor Leste Universitário, na capital, tem se destacado como um centro de formação tecnológica, conforme enfatiza o representante da instituição. Desde 2005, oferece cursos de graduação e pós-graduação em Tecnologia da Informação, e nos últimos anos, ampliou seu portfólio. “Lançamos cursos de pós-graduação em Inteligência Artificial nos últimos dois anos e, em 2024, iniciamos a primeira graduação tecnológica em IA da Fatesg”, revela Matuzinhos.
Para atender à crescente demanda por IA na indústria, a Fatesg também investiu fortemente em sua infraestrutura. “Somente de janeiro de 2023 até agora, investimos mais de R$ 10 milhões em tecnologia”, revela. “Temos laboratórios de IA, um centro de processamento de big data e parcerias com grandes empresas de tecnologia”, explica Matuzinhos. Além disso, a instituição mantém a chamada Fábrica de Software, onde estudantes podem trabalhar em projetos reais, desenvolvendo soluções de IA para empresas goianas. “Funciona dentro da própria unidade. Trata-se de um time de desenvolvimento, com ritmo de entrega comercial”, explica.
A integração entre a academia e o setor industrial é reforçada pela metodologia de ensino do Senai, que combina teoria e prática. “O Senai adota o famoso ‘hands-on’, que propõe ‘mão na massa’, conceito que se estende a todos os níveis de ensino. O objetivo é garantir que os alunos tenham uma formação prática robusta, com foco nas necessidades reais do mercado”, destaca.
Desde 2011, a Fieg, por meio do Senai, tem promovido discussões sobre a Indústria 4.0, que inclui tecnologias habilitadoras como a Inteligência Artificial. “A IA é uma das bases da Indústria 4.0, e o Senai está ciente quanto à necessidade de uma ambidestria, ou seja, precisamos formar para o presente, e precisamos também olhar para o futuro”, diz Matuzinhos.
Esse movimento inclui a criação de parcerias com o setor público e privado. No âmbito estadual, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Goiás (Fapeg), vinculada à Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação de Goiás (Secti/GO), tem fomentado a aplicação de IA no setor industrial. “No cenário federal, o Plano Brasileiro de Inteligência Artificial (PBIA) também é uma iniciativa importante para posicionar o Brasil neste cenário de IA no mundo”, acrescenta.
Nesse sentido, a Fieg e o Senai têm incentivado as empresas a buscarem recursos para a implementação de soluções inovadoras. “A Fatesg tem auxiliado empresas na escrita de propostas para submissão a instituições financiadoras, como a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e a Fapeg. Estamos falando de projetos robustos, na ordem de R$ 3 milhões”, detalha Matuzinhos ao mencionar iniciativas com envolvimento direto no desenvolvimento de soluções baseadas em IA.
Embora não haja dados estatísticos recentes e detalhados sobre a adoção de IA na indústria goiana, Matuzinhos observa que o interesse das empresas é crescente. “As indústrias estão ávidas por implementar IA em seus processos”, destaca ao reforçar que a Fatesg oferece serviços de consultoria e apoio técnico aos interessados. “Nossa Fábrica de Software auxilia empresas no desenvolvimento de soluções de IA, desde a escrita de projetos até a implementação”, comenta o representante da instituição de ensino ao mencionar que esse apoio técnico tem sido essencial para que as empresas avancem em suas iniciativas de inovação. “É um diferencial que pouquíssimas instituições têm”, destaca, com orgulho, o diretor.
Com o avanço das iniciativas da Fieg e do Senai, Matuzinhos acredita que Goiás está bem posicionado para se destacar no cenário nacional de inovação industrial. “O principal desafio é conseguir manter a operação e ao mesmo tempo olhar para o futuro”, conclui ao enfatizar que a IA não é mais uma tendência distante, mas uma realidade que tende a ser cada vez mais presente no cotidiano da indústria goiana.