Negócio

Céu estrelado vira negócio: turismo astronômico cresce 7,9% e Goiás mira liderança

O turismo no Brasil acumula R$ 90,4 bilhões em 2025

O turismo brasileiro segue crescendo com vigor em 2025 e uma das vertentes que vem ganhando destaque é o turismo astronômico — voltado à observação de astros, fenômenos celestes, contato íntimo com o céu noturno e experiências imersivas em locais de pouca poluição luminosa. Com dados recentes do setor, há sinais claros de que esse nicho pode se tornar não apenas uma atração de nicho, mas um componente estratégico do turismo, com potenciais efeitos econômicos, socioculturais e ambientais.

Segundo a Fecomércio-SP, o turismo nacional registrou, em maio de 2025, faturamento de R$ 17 bilhões, alta de 7,9% sobre maio de 2024 — o melhor resultado já registrado para esse mês desde o início da série histórica. Além disso, nos cinco primeiros meses de 2025, o turismo já gerou R$ 90,4 bilhões em receita acumulada, também recorde. Parte desse impulso vem do crescimento das viagens corporativas, da entrada crescente de turistas internacionais e da retomada expressiva do lazer. Dentro desse panorama, a modalidade de turismo astronômico aparece como tendência em ascensão, movida pelo desejo de experiências mais autênticas, proximidade com a natureza, destinos menos explorados e noites limpas — fatores que favorecem tanto regiões remotas quanto aquelas já reconhecidas por sua beleza natural.

Goiás se destaca acima da média nacional

Goiás, por sua vez, desponta nacionalmente. Dados da Pesquisa Mensal de Serviços (IBGE), analisados pela Goiás Turismo, mostram que em abril de 2025 o volume de atividades turísticas no estado cresceu 13,5% em comparação ao mesmo mês de 2024, quase o dobro da média nacional, que ficou em 9,3%. Também a receita nominal relativa às atividades turísticas em Goiás teve expansão expressiva frente ao mês anterior. Em maio de 2025, o estado completou oito meses consecutivos de alta no volume de atividades turísticas, com acumulados do ano e dos últimos 12 meses mantendo crescimento capaz de alimentar o otimismo. Esses resultados reforçam a vocação goiana para explorar modalidades diferenciadas como o turismo astronômico, sobretudo em regiões ecologicamente preservadas, parques nacionais, serras, chapadas e áreas de cerrado com baixa poluição luminosa.

Estrutura necessária para a observação do céu

O turismo astronômico exige locais com céu escuro, distantes de centros urbanos, com iluminação pública reduzida e topografia que favoreça a visibilidade. Requer ainda infraestrutura mínima, como observatórios ou pontos de observação equipados, guias especializados, hospedagem compatível e suporte para transporte, de preferência com estrutura educacional ou científica associada. Condições climáticas também são determinantes: tempo seco, ausência de nuvens e fases da lua que favoreçam a observação tornam o calendário astronômico peça central no planejamento das viagens.

Exemplos de destinos de referência no país

No Brasil, destinos como a Chapada Diamantina, na Bahia, e o Parque Nacional do Itatiaia, entre Rio de Janeiro e Minas Gerais, estão entre os melhores para observação astronômica, graças à altitude, ao céu limpo e à quantidade de noites favoráveis ao longo do ano. Esses lugares, combinados a roteiros de ecoturismo e de natureza, atraem um público que busca mais do que sol e praia. Em várias regiões, pousadas rurais já oferecem telescópios para os hóspedes, roteiros temáticos de observação do céu, caminhadas noturnas e festivais astronômicos, práticas que agregam valor cultural e científico à experiência turística.

Potencial e desafios de Goiás

Em Goiás, o potencial é evidente. O estado conta com áreas de cerrado de baixa densidade de luz artificial, como na Chapada dos Veadeiros, em regiões do Norte e Nordeste goiano e em áreas de serra de maior altitude. A experiência consolidada em ecoturismo e turismo rural facilita a adaptação para roteiros de observação astronômica. O crescimento já verificado do setor no estado, tanto em volume de atividades quanto em receita, cria um ambiente favorável para investimento e inovação. Mas ainda há desafios: é preciso melhorar a infraestrutura noturna adequada em localidades remotas, com hospedagem e transporte seguro, além de mobilidade e informações sobre riscos. Também é fundamental conscientizar sobre a preservação ambiental, controlar a poluição luminosa e articular políticas públicas e iniciativas privadas para garantir a qualidade do céu escuro, bem como investir em promoção e marketing específicos para um público exigente, que busca informação e experiências diferenciadas.

Especialistas avaliam que o turismo astronômico pode contribuir não apenas para a diversificação da oferta turística, mas para a distribuição mais equilibrada dos benefícios do setor. Ao atrair visitantes para destinos menos saturados, a prática ajuda a espalhar a ocupação ao longo do ano e estimula pequenas economias locais. Para que isso se concretize, será necessário mapear as áreas de maior potencial, integrar a observação do céu a roteiros de natureza e turismo rural, associar astronomia e cultura local e fomentar parcerias público-privadas para investimentos em pousadas, guias e transporte, além de políticas para controlar a poluição luminosa.

Com os números recentes, o Brasil vive um momento em que o turismo não apenas se recupera, mas redefine seus rumos, oferecendo experiências mais autênticas e ligadas à natureza. O turismo astronômico tem espaço para crescer, e Goiás, com seus atributos naturais e desempenho acima da média nacional, reúne condições de ser protagonista dessa nova fase. Se políticas públicas, investimentos e parcerias entre iniciativa privada e comunidades forem bem alinhados, 2025 poderá ser lembrado como o ano em que as estrelas — literalmente — se tornaram parte estratégica dos roteiros turísticos brasileiros.

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